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1. |
Roupa Nova
05:42
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Se algum dia te faltar
leva a seca ao teu quintal
com dois garrafões de sal
seca as mãos ao avental
abandona Portugal
se algum dia te faltar
Nalgum canto de Brasil
há quem cante diferente
mente para toda a gente
como não lhe ardesse o ventre
de plantar uma semente
nalgum canto de Brasil
Pra deixar o rio passar
antes do tremor da idade
cai no Carmo, na Trindade
desce à rua da Saudade
abre as portas da cidade
pra deixar o rio passar
Pela sombra da azinheira
vai à manifestação
amanha o peixe, amassa o pão
leva o puto pela mão
aprende a dizer que não
pela sombra da azinheira
Exercita o coração
colhe tudo o que semeias
antes da época das cheias
antes que mudes de ideias
quem sabe dormir a meias
troca a letra da canção
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2. |
Falas de Revolução
04:19
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Falas de revolução
trazes um cravo na mão
Sabes que a insurreição
cabe a alguns, a outros não
Concretiza a tua dança
tempestiva de bonança
prende o cravo na tua trança
porque não?
Falas de revolução
trazes um cravo na mão
Mas a emancipação
é questão de educação
Tu, tal qual a Gabriela
cheiras a cravo e canela
crava o cravo na lapela
porque não?
Habitação
educação
saúde e pão
e vinho
Na habituação
à situação
beber mais um
copinho
Saúda então
o grande irmão
não há outro
caminho
E no edredão
sonhar em vão
revolução
sozinho
Falas de revolução
trazes um cravo na mão
Lá vens tu com o teu quinhão
mas nem tudo é comunhão
Vens segura, não formosa
a luta é poesia, não prosa
faz do cravo a tua rosa
porque não?
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3. |
Monotonia
04:02
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Bom dia, Portugal, vim vasculhar o teu diário
limpei o cu ao jornal, agora sou panfletário
o otário que embrutecia, à noite, sonha com o dia
a cotovia morreu de hilária monotonia
Na junta de freguesia, nem há bichas, há filas
é tanto o medo da orgia como o pudor em pedi-las
Gorilas prá chungaria, antes do fado, a anarquia
nos becos da Mouraria caiada de anestesia
Ouvi na telefonia
Vou cantar à Maria
Pão-nosso de cada dia
Um dia passa a agonia
De que vale a euforia, dizem que a luta é alegria
Maior a revolução, maior a sua entropia
Marquem lá a eleição, sou cidadão por um dia
à noite, a televisão, a depressão, a azia
Escolher qual celebridade enquanto atenas ardia
Na Atenas da Antiguidade também há pedofilia
sodomia, verdade, o povo quer é sangria
vende a sua liberdade plo carro, pla moradia
Vomita publicidade, engole o prato do dia
faminto de caridade, esmola e pornografia
Com tanta fotografia, é farra, é festa, tem graça
que seja mais na desgraça que a gente sente empatia
Se tamos todos de tanga, despimos calças de ganga
bailemos bongos com o bonga, toquemos tangos da tanga
traguemos té da candonga, alonga a sunga e a tanga
tragamos truques na manga, aqui quem manda é Ipiranga
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4. |
Ditadura
03:11
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Vem ter ao Bairro Alto
que eu assalto
pla manhã
Erguer a ditadura
uma aventura
em Tetuã
Eu quero a bastonada
uma estalada
do imã
Esta falocracia
amolecia
Gengis Khan
A câmara da câmara
a filmar
Leviatã
De cócoras, de quatro
oitenta e quatro
orwelliano
No quarto, ela cora
o outro chora
pla mamã
É tempo do amor
e faz calor
nos meus colãs
É o nosso acordo
eu não te acordo
e tiro o sutiã
Deixa-me estraçalhada
derramada
no divã
Curo-te o priapismo
em exorcismo
de Djavan
Só eu te deixo exausto
o amor é fausto
pra Berhan
Morde-me o naco
na calçada, fraco
a pedra chã
Tá posta, a mesa
a toalha, tesa
a posta barrosã
Nesta fartura
nem limpei a dentadura
sã
Vem à pendura
da censura
mas segura o tchan
Amnistia a factura
o papa, o cura
ou o xamã
Rasura a assinatura
a arquitectura
da fajã
Não tem futuro, a cultura
a literatura
é vã
Espreita pla fechadura
a quadratura
do ecrã
Não sou a tua cura
quem te atura?
nem sou fã
Tanta amargura, jura
queres ternura?
pede à irmã
Que eu tou madura
da licenciatura
em guronsan
Já disse, a dita é dura
eu quero a tua cintura
a dita dura e dura e dura
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5. |
GCN
03:30
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Tenra idade, adolescência
dei-te um livro de moral
pr’antes de teres consciência
distinguires o bem do mal
Não é que estejas corrompido
plo pecado original
o baptizado foi cumprido
na revista social
Topas de Platão
tanto quanto de Agapito
Sabes bem da divisão
entre o feio e o bonito
Esmerei na educação
mais do que admito
Há que ter um filho nobre
pra ter um filho rico
Rico filho é possidónio, pais
agora são avós
E essa postura de Sidónio Pais?
Gente como nós
Casa-te com um homem
que te ame numa herdade
Se não te amar
sempre tens a caridade
O pobrezinho, pobrezinho
só tem falta de vontade
e perpetua a ingratidão
desta consanguinidade
Sabe-lhe apelido
não vá ser um pé descalço
Ninguém quer para marido
um novo rico, um queque falso
E se tá na moda
comer bolos no Careca
não te livras de uma foda
disfarçada de uma queca
O meu reduto é um gueto cascalense
e uma casa na Foz
Deixo impoluto o futuro p’ró que vence
Gente como nós
Saber falar como gente como nós
Pra trabalhar para gente como nós
Enfim casar entre gente como nós
E ir a enterrar junto a gente como nós
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6. |
Serra da Lapa
04:09
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Ó Bernardino, volta à terra dos teus pais
aonde dizes que se vem para morrer
A noite é negra, mas há noites bestiais
A gente canta, a gente dança, a gente bebe pra esquecer
Ó querido, não esqueças a serra nem o mar
tens na bagagem uma côdea a endurecer
A vida é dura, mas faz-me o gosto em voltar
Essa viagem demora a compreender
Ó companheiro de aventura, vem viajar
Dessa cidade vê-se um caminho interior
Se cá na terra há pouca terra pra moirar
a tua enxada moirará o teu amor
Ó meu amor, do outro lado, sabes quem
guardou o teu lenço bordado numa mão?
Na outra, dinheiro contado para alguém
que te salve desse quarto com vista para o saguão
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7. |
Roupa Velha
05:15
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De tanto se entregar, perdeu direito ao seu
retrato em cima da lareira e ainda para mais
deixou de ter cadeira à mesa nos natais
e agora aqueço o bacalhau que não comeu
Ligaste em brasa à meia-noite pra fazer
meia desfeita, roupa velha de Dezembro
Dou-te a receita ou do que dela ainda me lembro
Só me acordas quando estou para adormecer
Não me perguntes plo cabelo a encanecer
Não vês que a minha voz é casa assombrada?
que apenas um de nós a quer deixar trancada
com roupa velha, entrelinhas por coser
Trama complexa, só não sei se a sinto só
Só incensei sua graça infinita
Se a desconvexa almofada a viu aflita
fio de cabelo nela é tela de Miró
E agora tens-me a explicar como essa canção
Já percebeste, isto é só arqueologia
Desenterrei mais uma inútil melodia
Pra embalsamar a história do meu coração
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8. |
Enxaguado
03:24
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Na Lisboa que estremece
já nada é o que parece
como dizia o cantor
Quanto mais vibrante o dia
mais sinto que se esvazia
menos ouço o seu rumor
Perdoou-me esta franqueza
mas teimou em ser francesa
e conselhos, não lhos dei
Para mal dos seus pecados
dediquei-lhe um dos meus fados
que é o único que sei
Quando um sismo de verdade
derramar sobre a cidade
euforia sepulcral
pergunta com voz serena
se a saudade vale a pena
se tudo é pedra afinal
E toda a população
vem ver vindo o vagalhão
enxaguar o frenesim
mas eu, que a vejo da janela
não hei-de chorar por ela
se ela não chorar por mim
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João Berhan Portugal
Canções, amor, paternidade, sintaxe.
João Berhan, nome artístico do revisor de texto João
Berhan, editou o primeiro disco de canções em 2012 e o segundo em 2018. Cumprindo um rigoroso plano sexenal, já está a trabalhar no álbum de 2024.
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